Olhando para as notícias de ontem (25 de
Agosto) não foi difícil perceber que estamos em pleno Verão, época de incêndios
nas nossas florestas e matas que acrescentam todos os anos perdas incalculáveis
para o nosso futuro. Além dos espaços naturais foi também trazida a público a
memória Lisboeta do grande incêndio do Chiado, fazendo movimentar
consciências e trouxe para a ordem, daquele dia, a questão do fogo urbano.
Não deixa no entanto de ser muito infeliz
a certeza que o nosso Portugal está hoje mais pobre quer pela terra
queimada, quer pela perda de homens e mulheres que abraçam a tarefa de serem soldados da paz, entregando-se
à missão das corporações de bombeiros - muitas vezes com graves lacunas
materiais, formativas e até de efetivos.
Mas ontem preocupou-me outra questão, para
além do incêndio urbano, lembrei-me que a citadina Lisboa tem na sua estrutura
central um projeto que começou em 1868, foi ganhando forma através de Keil do
Amaral, Duarte Pacheco e outros ilustres anónimos.
O conceito inicial era o da transformação
de uma serra árida dedicada a pastagens, produção de cereais e alguns
edificados de suporte a estas atividades num bosque monumental - este espaço
que apenas começou a ser criado em 1929 através do plano de arborização da
Serra de Monsanto.
Foto tirada num dos percursos pedestres
principais do Parque Florestal de Monsanto
Tratando-se de uma obra desta época é
obviamente repleta de controversas medidas como a expropriação acelerada de
terrenos (até então inédita), a utilização de espécies infestantes (com
crescimento rápido), a utilização de prisioneiros e elementos da Mocidade
Portuguesa...entre outros episódios característicos do regime que então
vivíamos em Portugal.
Podemos não compreender muito bem a história
que herdámos desde a ideia fundadora do séc. XIX, mas percebemos claramente a
riqueza que hoje representa o Parque Florestal de Monsanto, contemplando 900hectares de zona florestal e uma biodiversidade considerável para um meio
urbano.
Se quisermos colocar à escala, podemos
afirmar que esta zona representa tem cerca de 10% do território de Lisboa. Esta
informação seria o quanto baste para considerarmos Monsanto como o pulmão vivo
de Lisboa, ou como forma de minimizar o impacto ambiental dos estilos de vida
modernos em que a poluição e agressão ao meio ambiente são notas dominantes.
No dia dos 25 anos do incêndio do Chiado
fui dar uma volta aos 10% de Lisboa, cruzei-me com algumas pessoas de
bicicleta, em corrida e até em passo apressado, vi o parque do Calhau com
muitos carros parados, vi as vistas, alguns dos habitantes de monsanto e até
transpirei, mas resolvi hoje trazer-vos uma imagem deste passeio.
Numa das vias principais do parque, por
cima do Parque de Merendas de São Domingos, via que serve como corta fogo está
empilhado - em pleno mês de Agosto - um monte de lenha seca e são visíveis
vários troncos de grande porte nos talhões circundantes. Óbvio que não fiquei
indiferente aos vários papéis afixados nos parques de merendas, que indicavam
"durante o período crítico é proibido fazer fogo - mesmo nos
grelhadores" (tal como vem previsto na legislação nacional).
Vista de uma das bermas do percurso pedestre
Bem sei que temos em marcha o corredor
verde, que temos trânsito limitado ao fim de semana, que existe um espaço
biodiversidade (que está espetacular)...agora falta-nos prevenir os danos neste
espaço e conseguir criar formas de atrair mais gente para a natureza.
Não basta preservarmos o património se não
o pudermos integrar nos nossos hábitos e rotinas, sendo que a Natureza, em
minha opinião, deve ser vivida através de passeios, contemplação ativa e estudo
não-formal.
Atenção Lisboa - se continuarmos a limpar
a nossa principal Mata em Agosto, corremos o risco de ficar mais pobres. Se não
levarmos pessoas à Floresta elas vão continuar exclusivamente a querer usar a
calçada portuguesa e a frequentar os centros comerciais...
10% de Lisboa que valem a pena!