segunda-feira, 26 de agosto de 2013

10% de Lisboa

Olhando para as notícias de ontem (25 de Agosto) não foi difícil perceber que estamos em pleno Verão, época de incêndios nas nossas florestas e matas que acrescentam todos os anos perdas incalculáveis para o nosso futuro. Além dos espaços naturais foi também trazida a público a memória Lisboeta do grande incêndio do Chiado, fazendo movimentar consciências e trouxe para a ordem, daquele dia, a questão do fogo urbano.

Não deixa no entanto de ser muito infeliz a certeza que o nosso Portugal está hoje mais pobre quer pela terra queimada, quer pela perda de homens e mulheres que abraçam a tarefa de serem soldados da paz, entregando-se à missão das corporações de bombeiros - muitas vezes com graves lacunas materiais, formativas e até de efetivos.

Mas ontem preocupou-me outra questão, para além do incêndio urbano, lembrei-me que a citadina Lisboa tem na sua estrutura central um projeto que começou em 1868, foi ganhando forma através de Keil do Amaral, Duarte Pacheco e outros ilustres anónimos.
O conceito inicial era o da transformação de uma serra árida dedicada a pastagens, produção de cereais e alguns edificados de suporte a estas atividades num bosque monumental - este espaço que apenas começou a ser criado em 1929 através do plano de arborização da Serra de Monsanto.

Foto tirada num dos percursos pedestres principais do Parque Florestal de Monsanto

Tratando-se de uma obra desta época é obviamente repleta de controversas medidas como a expropriação acelerada de terrenos (até então inédita), a utilização de espécies infestantes (com crescimento rápido), a utilização de prisioneiros e elementos da Mocidade Portuguesa...entre outros episódios característicos do regime que então vivíamos em Portugal.

Podemos não compreender muito bem a história que herdámos desde a ideia fundadora do séc. XIX, mas percebemos claramente a riqueza que hoje representa o Parque Florestal de Monsanto, contemplando 900hectares de zona florestal e uma biodiversidade considerável para um meio urbano. 

Se quisermos colocar à escala, podemos afirmar que esta zona representa tem cerca de 10% do território de Lisboa. Esta informação seria o quanto baste para considerarmos Monsanto como o pulmão vivo de Lisboa, ou como forma de minimizar o impacto ambiental dos estilos de vida modernos em que a poluição e agressão ao meio ambiente são notas dominantes.

No dia dos 25 anos do incêndio do Chiado fui dar uma volta aos 10% de Lisboa, cruzei-me com algumas pessoas de bicicleta, em corrida e até em passo apressado, vi o parque do Calhau com muitos carros parados, vi as vistas, alguns dos habitantes de monsanto e até transpirei, mas resolvi hoje trazer-vos uma imagem deste passeio.

Numa das vias principais do parque, por cima do Parque de Merendas de São Domingos, via que serve como corta fogo está empilhado - em pleno mês de Agosto - um monte de lenha seca e são visíveis vários troncos de grande porte nos talhões circundantes. Óbvio que não fiquei indiferente aos vários papéis afixados nos parques de merendas, que indicavam "durante o período crítico é proibido fazer fogo - mesmo nos grelhadores" (tal como vem previsto na legislação nacional).


Vista de uma das bermas do percurso pedestre

Bem sei que temos em marcha o corredor verde, que temos trânsito limitado ao fim de semana, que existe um espaço biodiversidade (que está espetacular)...agora falta-nos prevenir os danos neste espaço e conseguir criar formas de atrair mais gente para a natureza. 
  
Não basta preservarmos o património se não o pudermos integrar nos nossos hábitos e rotinas, sendo que a Natureza, em minha opinião, deve ser vivida através de passeios, contemplação ativa e estudo não-formal.

Atenção Lisboa - se continuarmos a limpar a nossa principal Mata em Agosto, corremos o risco de ficar mais pobres. Se não levarmos pessoas à Floresta elas vão continuar exclusivamente a querer usar a calçada portuguesa e a frequentar os centros comerciais...

10% de Lisboa que valem a pena!

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