terça-feira, 3 de setembro de 2013

A fronteira e a comunicação...até onde chega o Homem?

Há uns anos atrás fronteira era de facto uma linha bem marcada, normalmente vigiada e que controlava tudo e todos os que pretendia passa-la. Encarávamos esta linha como um limite, como quem diz aqui termina um espaço e começa outro, para alguns era visto como uma barreira e um sem fim de procedimentos burocráticos de controlo.

Há mas semanas resolvi aproveitar um fim de semana e dei um salto a uma cidade que, apesar de não se encontrar literalmente na fronteira, podemos considerar que se encontra na zona próxima (até aqui o conceito sofreu um alargamento). Foi tempo de visitar a "Notável Vila"de Estremoz, produtora do característico mármore branco usado no Templo de Diana e na Catedral de Évora, um local daqueles que vale a pena visitar.

Quando passei entrámos não fiquei indiferente a um enorme outdoor que se encontrava junto às vinhas do João Portugal Ramos, mas não se tratava de um bom Alentejano...

Era de facto um anúncio a uma marca francesa de grandes superfícies desportivas. A Francesa Decatlhon, para além das 22 lojas em Portugal, e seguramente várias em Espanha, tratou de abrir mais uma grande superfície, desta feita em Badajoz.

Até aqui tudo bem, um pouco por todo o lado surgem investimentos desta natureza, é normal que queiram continuar com o investimento e procurem a expansão...mas esperem lá, um cartaz...
Foto tirada à porta de Estremoz, junto às vinhas João Portugal Ramos
Em nada fere com a ideia de uma União Económica Europeia, espaço destinado à livre circulação de bens, mercadorias e pessoas. Mas não deixa de ser caricato que uma unidade de negócio, instalada em território Espanhol percorra um pouco mais de 60Km, Portugal adentro para colocar um outdoor.

Apesar da unidade anunciante se encontrar claramente no mercado Espanhol, a sua publicidade em Estremoz está escrita em Português, afinal de contas a globalização já não é de hoje.

Ainda estranhei o facto de comunicar em Português, afinal de contas Badajoz já é Espanha. Pus-me logo a fazer contas à vida...ou contas de merceeiro.
Então e o IVA...

Esta zona do nosso país tem já algumas experiências de comunidades transfronteiriças, de parcerias verdadeiramente Ibéricas, que criam proximidade entre as comunidades dos extremos de ambos os países e que sentem a desertificação no seu quotidiano.

Fica o registo que a cidade pode ter uma malha maior que a sua fronteira administrativa, pode cativar as redondezas, mesmo que sejam do distante estrangeiro e que a comunicação não precisa de ser digital para ir além fronteiras.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

10% de Lisboa

Olhando para as notícias de ontem (25 de Agosto) não foi difícil perceber que estamos em pleno Verão, época de incêndios nas nossas florestas e matas que acrescentam todos os anos perdas incalculáveis para o nosso futuro. Além dos espaços naturais foi também trazida a público a memória Lisboeta do grande incêndio do Chiado, fazendo movimentar consciências e trouxe para a ordem, daquele dia, a questão do fogo urbano.

Não deixa no entanto de ser muito infeliz a certeza que o nosso Portugal está hoje mais pobre quer pela terra queimada, quer pela perda de homens e mulheres que abraçam a tarefa de serem soldados da paz, entregando-se à missão das corporações de bombeiros - muitas vezes com graves lacunas materiais, formativas e até de efetivos.

Mas ontem preocupou-me outra questão, para além do incêndio urbano, lembrei-me que a citadina Lisboa tem na sua estrutura central um projeto que começou em 1868, foi ganhando forma através de Keil do Amaral, Duarte Pacheco e outros ilustres anónimos.
O conceito inicial era o da transformação de uma serra árida dedicada a pastagens, produção de cereais e alguns edificados de suporte a estas atividades num bosque monumental - este espaço que apenas começou a ser criado em 1929 através do plano de arborização da Serra de Monsanto.

Foto tirada num dos percursos pedestres principais do Parque Florestal de Monsanto

Tratando-se de uma obra desta época é obviamente repleta de controversas medidas como a expropriação acelerada de terrenos (até então inédita), a utilização de espécies infestantes (com crescimento rápido), a utilização de prisioneiros e elementos da Mocidade Portuguesa...entre outros episódios característicos do regime que então vivíamos em Portugal.

Podemos não compreender muito bem a história que herdámos desde a ideia fundadora do séc. XIX, mas percebemos claramente a riqueza que hoje representa o Parque Florestal de Monsanto, contemplando 900hectares de zona florestal e uma biodiversidade considerável para um meio urbano. 

Se quisermos colocar à escala, podemos afirmar que esta zona representa tem cerca de 10% do território de Lisboa. Esta informação seria o quanto baste para considerarmos Monsanto como o pulmão vivo de Lisboa, ou como forma de minimizar o impacto ambiental dos estilos de vida modernos em que a poluição e agressão ao meio ambiente são notas dominantes.

No dia dos 25 anos do incêndio do Chiado fui dar uma volta aos 10% de Lisboa, cruzei-me com algumas pessoas de bicicleta, em corrida e até em passo apressado, vi o parque do Calhau com muitos carros parados, vi as vistas, alguns dos habitantes de monsanto e até transpirei, mas resolvi hoje trazer-vos uma imagem deste passeio.

Numa das vias principais do parque, por cima do Parque de Merendas de São Domingos, via que serve como corta fogo está empilhado - em pleno mês de Agosto - um monte de lenha seca e são visíveis vários troncos de grande porte nos talhões circundantes. Óbvio que não fiquei indiferente aos vários papéis afixados nos parques de merendas, que indicavam "durante o período crítico é proibido fazer fogo - mesmo nos grelhadores" (tal como vem previsto na legislação nacional).


Vista de uma das bermas do percurso pedestre

Bem sei que temos em marcha o corredor verde, que temos trânsito limitado ao fim de semana, que existe um espaço biodiversidade (que está espetacular)...agora falta-nos prevenir os danos neste espaço e conseguir criar formas de atrair mais gente para a natureza. 
  
Não basta preservarmos o património se não o pudermos integrar nos nossos hábitos e rotinas, sendo que a Natureza, em minha opinião, deve ser vivida através de passeios, contemplação ativa e estudo não-formal.

Atenção Lisboa - se continuarmos a limpar a nossa principal Mata em Agosto, corremos o risco de ficar mais pobres. Se não levarmos pessoas à Floresta elas vão continuar exclusivamente a querer usar a calçada portuguesa e a frequentar os centros comerciais...

10% de Lisboa que valem a pena!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Prevenir para não remediar I - A sarjeta sazonal

O clima temperado convida qualquer turista a uma passagem pela nossa capital por esta altura, o bom tempo permite agora tratar das obras que foram adiadas pela chuva - é agora tempo de se conhecer Lisboa e guardar memórias para a vida.

Mas ontem, à hora do almoço, subia a Rua Nova do Almada e ao olhar para a Calçada Nova de São Francisco de Assis (Chiado) vi algo que nem queria acreditar...tive mesmo de registar.

 Sarjeta presente na base da Calçada Nova de S. Francisco de Assis (com a Rua Nova do Almada)

Este é de facto um dos exemplos em como a nossa política pode sofrer de sazonalidade. Nesta altura do ano a Baixa Pombalina e o Chiado são como cartões postais da nossa cidade, afinal de contas ninguém dispensa uma foto com o Fernando (Pessoa), uma viagem no Elevador (de Santa Justa), entre outros.

Por agora esta sarjeta parece ser vítima de asfixiação por lixo (fiquei curioso como se notava bem uma fralda descartável, copos plásticos e outros objetos não identificados), imaginem se o próximo Inverno tiver a mesma carga de água que teve este último - até fez adiar as obras calendarizadas para o início desde ano. Talvez a próxima atração turística sejam as Cascatas Pombalinas, ou os rápidos do Chiado potenciais turísticos até aí desconhecidos.

Tal como nos fogos florestais que se têm propagado, em parte pela falta de limpeza dos matos públicos e privados, aqui esquecemo-nos de fazer o trabalho de casa e prevenir o futuro.

São atos simples de cidadania regularmente esquecidos, cada pequeno pedaço de lixo deitado ao chão acabou por tratar deste acumular de pequeninas coisas - revelando agora um grande problema e uma perfeita falta de respeito pelos demais cidadãos.



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A Lisboa das 7 colinas, quase para todos.

Há uns dias subia a rua onde trabalho e consegui lembrar-me o porquê da tão característica expressão "Lisboa das 7 colinas". Veio a crise e de repente conseguimos pedalar nas colinas, ultrapassar os nossos limites e desafiar a capacidade e vigor, mas ainda temos alguns problemas na locomoção de todos na nossa cidade. 
Trago-vos hoje o exemplo de uma pessoa que tenho visto com alguma regularidade, ainda ontem estava parqueada numa zona de táxis aguardando que fosse possível deslocar-se sobre o alcatrão, visto que a cadeira elétrica que temo não lhe permite deslocar-se sobre o passeio alfacinha pela quantidade de obstáculos que tem.
Aos poucos parece que vamos começando a olhar para o espaço público como um bem, devendo ser preservado e melhorado, permitindo que todos - sem exceção possa usa-lo.


Foto tirada na Rua Nova da Trindade no início de um dia de trabalho
Há uns anos atrás, nos tempos da licenciatura em Ergonomia, falávamos bastante no conceito do design universal e da acessibilidade para todos. Lembro-me perfeitamente de observarmos o espaço público e notarmos que fazia falta vencer o desnível acentuado, remover os obstáculos da via pública, transformar o tipo de informação que dávamos aos peões, entre outras questões - infelizmente hoje só tenho pensado nos locais de trabalho em que vou intervindo.

Noto agora que estamos em contra relógio, uma vez mais, pois temos em discussão pública nestas férias, sim desde 1 de Agosto, a "Proposta Global do Plano de Acessibilidade Pedonal de Lisboa" terminando este período a 31 de Outubro, tal como publicitado pela autarquia da nossa Capital.

Embora este projeto possa parecer ver a luz do dia neste momento, não posso deixar de referir que esta ideia veio a público pela primeira vez em Junho de 2009, curiosamente já depois de muita discussão e partilha desde a publicação da conhecida Lei da acessibilidade através do Decreto-Lei 163/2006, de 8 de Agosto (apenas oito anos depois do Decreto-Lei 123/97, de 22 de Maio, que fazia um primeiro enquadramento do espírito da lei e foi revogado por este diploma).

Lisboa tem agora oportunidade de resolver alguns desafios, resta saber se o facto de estar de férias durante este período não a impedem de ser esclarecida e de poder participar no processo de tomada de decisão.







quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Abertura das publicações

Chega hoje, a 15 de Agosto de 2013, mais um espaço destinado a registo de factos, partilha de ideias e expressão livre de opinião - resolvi chamar-lhe "O ver a cidade" -.

A opção por um nome como "O ver a cidade" prende-se com a vontade de dar a conhecer o ponto de vista sobre aquela que tomo como unidade básica da organização social, a cidade, optando por faze-lo preferencialmente sobre Lisboa - onde vivo - mas poderá chegar a outras por onde se passe.

O ponto de partida deve ser uma questão, uma ilustração, um pensamento, um momento ou algo que marque e seja motivo de pensamento. O ponto de chegada não tem ainda expressão certa. local ou definição, esperando que se possa ultrapassar as dificuldades do caminho e limitações do autor.

O trocadilho de Ver a cidade é a aproximação do substantivo veracidade, procurando sempre que se paute por uma comunicação verdadeira e rigorosa, agradecendo sempre o enriquecimento que os leitores queiram partilhar - procurando sempre a elevação da discussão, o respeito pelos demais cidadãos e a construção de um espaço que se pretende plural e útil.

Espaço de cidadania, expressão de opinião, vivência do espaço público procurando que se possa ir fazendo caminho.

Com amizade,

O Autor.
Foto tirada na Av. Almirante Reis